segunda-feira, 14 de março de 2011

Retruquei. “mas eu não tenho nenhum cho...” antes que eu terminasse, li o cartão.
“Bom dia, ou boa tarde. Pensei que fosse demorar mais para que você viesse conhecer o meu quarto. Aproveite os chocolates e recupere-se da ressaca. As 9h te encontro no saguão pra gente sair. Beijos.”
Eram essas palavras que tinham no cartão, foram essas palavras que me envergonharam a cada letra.
Nem tinha reparado que a Patrícia já estava deitada ao meu lado com o queixo sob as suas mãos. Ela disse. “então quer dizer que vocês transaram?”
Olhei para ela e então a empurrei para fora da cama, mas não causou muito efeito.
Respondi. “nós não transamos.”
Ela perguntou indignada. “como assim?”
Mudei de assunto. “como você acordou com o serviço de quarto e não acordou comigo gritando?”
“Você deve ter chegado cedo e o serviço chegou quase na hora que realmente iria acordar.”
Fui tomar banho, mas o Nando ainda estava deitado no banheiro.
Chamei socorro. “P (Patrícia) vem aqui.”
Eu estava com as mãos em minha cintura e a Patrícia quando chegou lá também teve a mesma reação. Ficou com as mãos na cintura olhando para a cena do Nando.
Ela perguntou. “e aí? O que a gente faz?”
Sorri com maldade e então ela também sorriu da mesma forma.
Puxamos o Nando para debaixo do chuveiro e o ligamos.
Nando acordou assustado e já todo encharcado levantou-se perguntando. “vocês estão loucas?”
Nós estávamos rindo e isso aumentou a raiva que ele estava.
Nando nos expulsou do banheiro e foi tomar banho.
Alguns minutos depois ele saiu reclamando da dor de cabeça que estava sentindo.
Eu estava deitada em minha cama e o chamei como se estivesse chamando uma criança. "vem aqui bebezinho."
Ele sorriu e foi encostar sua cabeça em minhas pernas enquanto eu alisava seu cabelo.
A Patrícia lhe deu remédio e um tempo depois ele adormeceu. Assim que ele dormiu, fui tomar banho.
Algumas horas depois nós três fomos para a sala de jogos do Hotel.
Alguém chegou por trás de mim e fechou meus olhos com suas mãos.
"Quem é?"
Responderam. "alguém que está curioso para saber como foi sua ressaca."
Morri de vergonha e muchei ali mesmo. Quando raramente fico alcoolizada, não costumo me vanglorizar do feito e sim me envergonhar. O tipo de arrependida.
Era o Marcelo. Ele veio para a minha frente, rindo muito e perguntou. "eu acho que não deveria está rindo, não é?"
Secamente resopondi. "Não."
Ele me abraçou e beijou minha testa dizendo "não fica assim... vamos ali na praia comigo?"
Respondi com outra pergunta. "já está tarde."
Ele respondeu indiretamente. "costumo preferir a noite."
Sorri, ele pegou uma de minhas mãos e nós caminhamos até a praia. Chegando lá, nos sentamos na areia.
Nós tivemos um almoço muito agradável. Quando terminamos voltamos para o Hotel, mas quando chegamos a porta do meu quarto, ele se despediu com um beijo no rosto e saiu, mas na metade do caminho ele parou e se virou para mim dizendo. “eu deveria está lhe chamando para conhecer a minha casa, mas como não posso, tudo o que eu posso oferecer é que venha conhecer o meu quarto.”
Nem sempre tão discreto, certo? Isso foi o que eu pensei, mas a minha resposta foi. “não. Não hoje.”
Ele mexeu estranhamente em seu cabelo e voltou a caminhar para o seu quarto.
A noite, eu, a Patrícia e o Fernando fomos para uma balada. Depois de dançar todas e beber todas, chegamos (não sei como) bêbados no Hotel. Lembro-me mais do dia seguinte. O Fernando amanheceu no banheiro, a Patrícia na minha cama e eu... bom, eu amanheci em outro quarto.
“ai meu Deus!” Eu disse baixinho, olhando para as paredes que não tinham exatamente a mesma decoração do quarto em que eu estava hospedada. Voltei a dizer, um pouco mais alto quando eu vi o Marcelo dormindo no chão ao lado da cama. “ai meu Deus.”
Examinei peça por peça das minhas roupas. A única coisa que não estava no lugar eram minhas sandálias.
Levantei-me e peguei minhas sandálias que estavam juntas no pé da cama. Beijei o rosto do Marcelo e então sai do quarto da mesma forma que uma adolescente chega em casa de madrugada.
Em compensação cheguei no meu quarto da mesma forma que os meus amigos chegam em minha casa. Gritei. “acordem vagabundos.”
Mas, o maior movimento que ocorreu no quarto foi o Fernando mudando de posição dentro do banheiro. Então, como uma boa alma eu os ajudei. Liguei o ar condicionado, endireitei a Patrícia que estava quase caindo da cama, tirei suas bijuterias, folguei suas roupas e tireis seus sapatos. Levei um travesseiro para o Nando e também folguei suas roupas, que inclusive estavam sujas de vomito. O mesmo travesseiro, mais tarde, foi abandonado em um dos corredores daquele Hotel.
Eu voltei a dormir, dessa vez na cama do Nando.
Bem mais tarde eu acordei e a Patrícia já estava de pé.
Quando me viu ela disse com um cara de tormento. “volta a dormir.”
Ainda sonolenta eu perguntei. “por que você já está de pé?”
Ela respondeu com raiva e sono. “serviço de quarto.”
Perguntei, em estado melhor que o dela. “quem pediu?”
Ela foi perto de mim e jogou um cartão. Sentou-se na cama em que eu estava deitada e disse sonolenta. “juro que eu não li.”
Concordei ironicamente. “sei que não.”
Sorri e ela também.
Segurei o cartão, mas não li. Perguntei pra ela. “o que é isso que você está comendo?”
Ela respondeu com cara de sacana. “um dos seus chocolates.”
Revirei os olhos e consolei. "desculpa. Repete para mim e eu juro que vou prestar atenção."
Esforcei-me e prestei atenção nela. Quando olhei novamente, após ela ter terminado de falar, ele já não estava mais no mesmo lugar.
Patrícia notou e perguntou curiosa e não mais com raiva. "quem é que você procura a tanto tempo?"
Menti. "ninguém."
Ela me olhou de um jeito que dizia "fala sério!"
Então falei a verdade. "aquele cara do elevador. Ele estava bem ali."
Ela voltou a reclamar. "poxa Tati, por que não me disse?"
Fui sincera. "você é mais importante que ele."
Agora ela quem revirou os olhos. "você é idiota."
Ficamos conversando e o Fernando ainda estava com a menina que ele havia conhecido por aqui.
Com um tempo me chamaram. "Tatiana?!"
Virei-me e olhei. Era ele com um suco igual ao que a Patrícia havia me trazido. Ele o me entregou enquanto perguntava "posso?" olhando para a cadeira ao lado da minha.
A Patrícia levantou-se sorrindo e dizendo. "vou pegar meu protetor lá em cima. Não sintam minha falta."
Apenas sorri e voltei a olhar para ele, dizendo docemente "obrigada. Mas então, como adivinhou que eu gosto de abacaxi?"
Ele sorriu charmosamente e respondeu endireitando sua cadeira para ficar de frente com a minha. "você parece gostar de atrair confusões." Rio de sua piada sem graça e continuou. "Agora sério. Eu estava te reparando a muito tempo e dentre todos os sucos amarelos que tinham ali, foi o que eu achei mais próximo."
Achei estranho, isso é um novo tipo de cantada?
Ele puxou assunto. "de onde é?"
Respondi "daqui do Rio Grande mesmo, Caicó."
Ele sorriu e respondeu algo que eu não havia nem perguntado. "sou do Espirito Santo."
Realmente o sotaque não negava.
Fui direta. " e aí? O que pretende?"
Ele riu e perguntou. "você é sempre tão direta?"
Respondi. "curso Direito."
Ele brincou. "está explicado o porquê da falha como médica."
Brinquei em resposta. "Na verdade eu havia citado enfermeira."
Ele apenas sorriu e eu continuei. "e o que você faz?"
Ele respondeu. "sou administrador."
Perguntei com o intuito de que ele continuasse a minha frase. "e administra...?"
Ele respondeu. "o café da manhã com excelência." Ergui uma sobrancelha reprovando mais uma de suas piadas. "Não, não. Agora sério, eu estou trabalhando na empresa da minha família."
Ri um pouco e cobrei. "ainda me deve uma resposta."
Ele lembrou. "ah! É mesmo. Pretendo convidar uma bela mulher para sair comigo hoje a noite."
Brinquei. "bela mulher? Ah! Pensei que eu tivesse alguma chance."
Ele respondeu, olhando firmemente. "você é a única que tem."
Respondi. "acho que agora posso dizer sim."
À noite saímos para um restaurante que ficava perto. Conversamos muito, sua conversa era agradável e não nos faltou assunto. Demonstrou ser um homem inteligente, educado e com bom humor, ou uma tentativa disto.
Quando terminamos, ele me fez um novo convite. Convidou-me para caminharmos pela orla sem destino. Topei e assim fizemos.
O tempo passou e não nos demos conta, até que o Fernando me ligou perguntando sobre a Patrícia. Se estivesse preocupado como amigo, ele também teria se preocupado comigo, na verdade ele estava preocupado como ciumento. Os dois podiam negar, mas dava para notar de cara o quanto eles se gostavam.
Comentei com o Marcelo. "saudade de dizer - já está tarde, tenho que ir."
Ele sorriu e respondeu. "então diz."
Olhei para ele estranhando suas palavras, mas fiz, mesmo que sem graça. "já está tarde, tenho que ir."
Ele disse. "também sendo nostálgico vou responder - eu não queria, mas também tenho que ir. Contudo, vou deixá-la em casa."
Brinquei. "Não tem outro jeito mesmo."
Nós caminhamos novamente até o Hotel. Depois de muita conversa jogada fora na porta do meu quarto ele se despediu e foi para o seu.
Logo na manhã seguinte, ele foi muito cedo bater na minha porta. Pedi para que a Patrícia atendesse e foi assim que ela o recebeu:
"bom dia quase peguete de verão da minha amiga."
Assim que ouvi isso corri para a porta e tomei sua frente.
"desculpa, mas ela costuma falar muito assim que acorda. Digamos que ela seja a oposição da humanidade."
Sempre sorridente, ele convidou. "vamos à praia e depois almoçar em algum restaurante?" Olhou por cima de mim e chamou a Patrícia que fingia está ouvindo música. "vamos também, Patrícia?!"
Ela respondeu. "não quero atrapalhar."
Olhei lentamente para trás e toquei fogo nela simplesmente com o meu olhar.
Então, discreta como sempre, ela brincou. "eu só disse a verdade."
O Marcelo ainda aguardava minha resposta. “eu aceito.”